Antes de qualquer coisa é preciso dizer que na história recente do Brasil, em se tratando de políticos e/ou governantes, transferir culpas não é exclusividade do governo atual. Por outro lado, é possível inferir que nos últimos três anos e meio o que se viu e vê no país parece demasiado. Ou seja, o presidente – e todos os que o defendem -, são unânimes em tentar achar um bode expiatório, tentar culpar outrem por ações ou omissões que são do mandatário maior desta Nação.
Não precisa voltar muito no tempo para assistir vídeos nos quais o atual presidente da República – ou mesmo seus filhos Eduardo Bolsonaro e Flávio Bolsonaro -, culpam especialmente o Partido dos Trabalhadores (PT) pelos altos preços dos combustíveis no Brasil. Disse em 2018 o então candidato Jair Bolsonaro “temos que buscar uma maneira, já que temos uma estatal que pratica o monopólio, e colocar o combustível nas bombas dos postos do Brasil com um preço compatível com a realidade brasileira… com preços mais baixos, pois estamos no limite do limite”, disse. Naquela data, 28.05.2018, o preço médio da gasolina era R$ 4,30.
O tempo passou e na condição de presidente, com capacidade para nomear presidentes da Petrobras e sendo acionista-maior da estatal, que segue política internacional de preços em seus produtos, o presidente Bolsonaro passou a culpar os mesmos presidentes da Petrobras nomeados pelo chefe do Executivo; culpar governadores e a política de cobrança do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços, mais conhecido como ICMS; culpar a guerra Rússia-Ucrânia e até ameaçar privatizar a Empresa de Petróleo Brasileiro, de mudar as regras desta faltando aproximadamente quatro meses para as eleições presidenciais em 2022.
O presidente disse ainda, para empresários e políticos, no Rio de Janeiro, “que não pode interferir na alta de preços dos combustíveis”. Outros partidos podiam. O presidente Michel Temer podia. Qualquer um podia, exceto seu governo. Para Bolsonaro é mais fácil transferir a culpa.
Enquanto brasileiros e brasileiras morriam devido a pandemia do novo coronavírus, causador da Covid-19, sem que o governo federal, através de seus tantos ministros da Saúde, adotasse estratégias nacionais e assumissem o comando das ações de combate à doença, o presidente da República preferia culpar o Supremo Tribunal Federal (STF), alegando que o STF havia entregado o combate à pandemia para governadores e prefeitos. Os mais atentos certamente tiveram a preocupação de dar uma lida na decisão do STF à qual o presidente fez e ainda faz muita referência; outros, no entanto, especialmente membros do governo, políticos defensores e apoiadores seguiram o presidente e espalharam fake news enquanto as pessoas morriam.
Sobre a possibilidade de perder a eleição presidencial que se avizinha, Bolsonaro tem culpado, antecipadamente, o sistema eleitoral brasileiro. Ainda que a culpa recaia somente em caso de derrota; em caso reeleição, tudo continua como antes, pois foi assim que o presidente se elegeu ao longo dos seus 28 anos como deputado federal e em 2018, para presidente.
Ao participar de eventos públicos ou durante entrevistas sempre que surgem questionamentos envolvendo economia, alta da inflação, preços dos combustíveis, do gás de cozinha ou coisa que o valha, o presidente não hesita dizer “Estamos pagando a inflação do fique em casa e a economia a gente vê depois”. Certa feita o mandatário maior do Brasil ao “traçar um paralelo” entre crescimento da população mundial por ano, passar fome e comer mais, questionou “Se você perguntar em casa, ou olhar para você e lembrar quanto você pesava no passado (antes da pandemia) e pesa agora, na média, todo mundo engordou um pouco mais. É uma realidade”.
Sobre o que disse o presidente Bolsonaro sobre “comer mais no Brasil”, ficam dois questionamentos: 1 – Sua afirmação significa dizer que a culpa da alta da inflação é das pessoas que “estão comendo mais”, como afirmou o presidente? 2 – O que dizer de mais de 33 milhões de pessoas que passam fome no brasil, com o aumento em pouco mais de 14 milhões de novos famintos no País em apenas um ano, segundo estudo da Rede PENSSAN, divulgado recentemente?
Após quase três anos e três meses na presidência do Brasil, em abril último Bolsonaro disse “precisamos realmente começar a mudar o destino do Brasil. Não podemos avançar com mentiras”. Pois bem, no último ano do mandato e parecendo descobrir que o Brasil não avança, desta feita Bolsonaro “culpa a imprensa” e “outros poderes”. Enquanto a Amazônia pega fogo, Bolsonaro culpa o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – INPE por divulgar os dados. Se o número de desempregados cresce no Brasil e Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas – IBGE, como sempre fez, divulgar dados dessa natureza, a culpa desta feita “é da fórmula como esses dados são calculados e é preciso mudar”, segundo o presidente.
Em fevereiro de deste ano, depois de sobrevoar áreas da região metropolitana de São Paulo, Estado que era administrado por João Dória (PSDB) adversário de Bolsonaro, atingidas pelas chuvas, o presidente disse que faltou “visão de futuro” por parte de quem construiu as residências nos locais de risco e é afetado pelas chuvas. Ou seja, as vítimas, do sistema e também das chuvas, são culpadas. Não os governantes, incluindo o governo federal.
Ao sobrevoar a região sul da Bahia que muito sofreu com as chuvas, o presidente aproveitou para culpar seu adversário, o governador do Estado Rui Costa (PT), ao dizer que “muitos governadores, inclusive o da Bahia, fecharam o comércio e obrigou o povo a ficar em casa”. Em Recife e Grande Recife ao ver os estragos causados pelas chuvas em maio próximo passado, o presidente aproveitou para culpar o também adversário, governador daquele Estado da Federação, Paulo Câmara (PSB), e disse que “faltou iniciativa” ao governo estadual.
Ainda no Nordeste, quando do episódio da Polícia Rodoviária Federal (PRF) que acabou na morte de Genivaldo dos Santos de Jesus, no município de Umbaúba (SE), Bolsonaro preferiu chamar Genivaldo de “marginal” e culpar a imprensa por pressionar autoridades e ficar “ao lado da bandidagem”. O bandido, segundo Bolsonaro, era o moço de 38 anos que tinha, sic, transtornos psicológicos.
Enquanto a Polícia Federal afirma em exame médico-legal que “a morte do Sr. Dom Phillips foi causada por traumatismo toracoabdominal por disparo de arma de fogo com munição típica de caça, com múltiplos balins, ocasionando lesões principalmente sediadas na região abdominal e torácica”, o presidente da República preferiu dizer que “Dom Phillips era mal visto na região”. Ou seja, transfere a culpa para a vítima. Isso depois de dizer “que os dois se lançaram numa aventura”, referindo-se ao indigenista Bruno Pereira e pelo jornalista correspondente do The Guardian, Dom Phillip, cujos corpos foram encontrados no município de Atalaia do Norte, no estado do Amazonas.
Para não finalizar, teve a promessa de dar um reajuste acima da inflação, repondo perdas salariais, reestruturando carreiras enfim, especialmente para policiais federais, policiais rodoviários federais e agentes penitenciários federais. Depois de perceber que outros servidores federais reivindicaram os mesmos tratamentos que por ventura fossem dispensados aos servidores das carreiras citadas, sentindo que o cobertor não daria para abrigar todo mundo, Bolsonaro passou a culpar o que ele chamou de “outros servidores”, quando afirmou “E digo a vocês publicamente, PRF (servidores da Polícia Rodoviária Federal): o grande problema não é o nosso lado, são colegas, outros servidores, que não admitem reestruturar vocês sem dar aumento até abusivos pro outro lado”, disse, além de culpar também o Teto dos Gastos. A culpa neste caso passa a ser de “outros servidores”. Nunca do presidente, segundo o próprio presidente e quem o defende.
E por falar em TRANSFERÊNCIA DE CULPAS como PRAXE do presidente BOLSONARO, na certeza de que citamos apenas alguns momentos em que se culpou outrem por sua(s) própria(s) culpa(s), salvo melhor juízo, seria possível afirmar, em último caso, que a culpa do fracasso do atual governo federal é na verdade dos eleitores que votaram e o colocaram no Poder na esperança de que suas vidas, e quiçá do povo brasileiro, fosse mudar para melhor. Ledo engano.
FSA-BA, 28.06.2022.
Professor Carlos Alberto

Muito bom, perfeito a culpa sempre é do outro
Análise perfeita! De tanto apontar culpados pelos resultados catastróficos de sua gestão, enfim bolsonaro acaba se dando contan dos verdadeiros culpados por tudo isso: os seus eleitores, q iludidos com suas promessas, lhe deram o cargo de ‘mentiroso Mor da nacão’, e nos mergulhou nessa bolha de ‘desgraças e infortunios’. Vade retro! 🙁