“Estou inscrito”, é essa a senha para participar de uma partida de jogo de buraco que ocorre diariamente embaixo dos oitizeiros localizados no estacionamento em frente à Prefeitura Municipal de Feira de Santana. Utilizando cadeiras cedidas gentilmente pelos sapateiros da Praça e uma tabua coberta por um pano verde que logo se transforma em um “gramado”. Cartas na mesa e o jogo começa.
Mesmo na base do improviso, há dias que a jogatina ganha a noite e tem a lua e as estrelas como companheiras, que juntas a luz artifical iluminam o ambiente.
Valendo beijos e abraços (como se diz na gíria dos jogadores) as partidas disputadas por dois oponentes são sempre cheias de emoções e vence o jogo quem consegue fazer dois mil pontos. Às vezes são necessárias três rodadas para liquidar o “inimigo”. Quando isso acontece, deixa o jogador da fila de espera chateado com a demora para chegar à sua vez.
Sob olhares dos condutores de veículos e pedestres, o jogo é frequentado por jornalistas, policiais, empresários, ex-jogador de futebol, pedreiros e servidores municipais.
Jovens e adultos que vendem água mineral, salgados, geladinhos e picolés alimentam e matam a sede dos jogadores que se satisfazem participando da brincadeira que acontece de segunda á sábado.
Para participar do grupo basta colaborar com um par de baralhos ou uma certa quantia em dinheiro para renovar as 104 cartas que têm curta duração de vida.
Se no futebol cada torcedor é um técnico, no jogo não faltam os perus que sempre opinam e criticam as prováveis jogadas erradas feitas por um jogador. Como resposta ele escuta, “você joga muito, mas já perdeu e está ai peruando”.
O jogo tem regras e o desafio é sempre permanecer na “mesa” derrubando mais um adversário. Se existe o peru, há também o gato, ou melhor, a cara de gato. Basta perder sem fazer pontos e logo um miado ecoa no local em gozação ao perdedor. A cena é difícil, mas esporadicamente acontece.
Mesmo sendo um jogo sem apostas, as vezes no dia seguinte o par de baralhos que é guardado na base dos sapateiros faltam cartas. Mas um detetive que faz parte da brincadeira já avisou, “estou investigando quem está sendo desleal escondendo cartas para vencer o jogo. Assim que eu descobrir ele será penalizado com a eliminação do nosso grupo”.
Importância
Estudos que investigam o comportamento humano em espaços abertos ressaltam que estar ao ar livre favorece o bem-estar físico e mental, refletindo positivamente na saúde e na qualidade de vida, notadamente dos idosos, devido à variedade de estímulos e às oportunidades de socialização oferecidas por esses ambientes.
Texto e fotos: Luiz Tito