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domingo, 8 setembro, 24
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Preço alto, estrada tristonha, lá vem alta no diesel, pois o Diabo mora nos detalhes.

A lei de Murphy diz que uma coisa está ruim e no seu pior momento, ela ficará ainda mais ruim. Assim se pode descrever a situação dos combustíveis no mês de maio. Aqui se vai analisar os dois combustíveis mais utilizados, a gasolina e o diesel. O país entrou em rota de colisão com os dois insumos e como se não bastassem os dissabores políticos, ainda vem tornando pior, os dissabores técnicos.

Não é desconhecido nem dos habitantes de Nárnia, que a dependência do diesel para a economia brasileira é de bengala para quem tem dificuldades em se locomover, ou seja, sem ele, as mercadorias não chegam ao seu destino e com ele mais caro, seu custo precisa ser repassado, alimentando o dragão da inflação, que julgávamos estar em extinção, mas voltou, e está provocando erupção e destruição. Isso sem falar que em breve vai existir a pressão dos eternos empresários reclamões do transporte público que logo irão retirar os ônibus das linhas menos rentáveis, deixando a população a deriva, sob o olhar complacente e cumplice das digestões municipais. Sim, diesel caro, menos ônibus nas ruas, como eles não abrem mão do horário de pico, onde devem levar a classe trabalhadora para a opressão diária, não existe reclamação dos veículos superlotados, mas nos horários intermediários os buzus, certamente irão sumir e a população vai mofar ainda mais nos pontos, a espera de um ônibus.

E, para comprovar a lei de Murphy, mencionada acima, vem aí a chantagem do desabastecimento. A Europa deve aumentar nos próximos dias, a sanção ao petróleo e derivados russos, o que certamente, vai abrir a brecha para que os EUA forneçam o produto, abastecendo o interessante mercado europeu e nos deixando a ver navios carregados, sumirem de nossa visão. Será a concretização do que analistas tem dito, o tal do” leva quem paga” e aí reside a reclamação dos importadores brasileiros, pois alegam que o preço praticado pela Petrobrás está defasado em relação ao mercado internacional e eles irão comprar caro e vender barato, segundo eles a conta não bate. O Diabo mora nos detalhes nessa pantomina, afinal de contas 25% do diesel consumido no país vem pela importação e nossa capacidade de refino se encontra com equipamentos já em adiantado estado de putrefação, ou seja, quase obsoletos, a exemplo da refinaria de Mataripe que já vem provocando um fato inusitado. A quantidade de caminhões que vão buscar diesel em Abreu e Lima, Pernambuco já é visível na BR101, agora imagine que, de Salvador a Recife são 1700 km de ida e volta, tendo uma refinaria de Mataripe em seu quintal, coisas dos tempos loucos que a população está vivendo, viva a privatização, viva o mercado livre. E a lei de Murphy se concretiza, pois se o país tiver dificuldades em adquirir diesel no mercado externo e acontecer uma parada por defeito na produção nacional, vai faltar diesel nas bombas para movimentar o país. Sim, falta uma política pública que contemple um enfrentamento a uma potencial crise de abastecimento, mas parece que logística não é o forte deste governo neoliberal, aliás não se tem conhecimento do que seja o forte de maneira positiva, apertem os cintos, pois não existe plano B.

No tocante a gasolina, aparentemente, não fica tão grave, pois existe um bem substituto muito próximo de tecnologia nacional, falo do etanol. Isto faz com que os carros não parem por desabastecimento, repito, desabastecimento, pois o preço elevado pode fazer o seu carro ficar na garagem, ou numa loja de revenda. Não é à toa que as bicicletas e scooters elétricas já disparam suas vendas. Diferente do diesel que é um bem inelástico, sem substituto próximo, a gasolina vem ganhando elasticidade, o problema que o Diabo mora aqui também nos detalhes. Pois então, quem vai garantir a contenção da ânsia por lucros, dos usineiros quando após a moagem da cana, ele mudar a linha de produção desviando o caldo da cana do destilador para o cristalizador, ou seja, estimulado pela crescente demanda internacional do preço do açúcar, ele opte em substituir a produção, deixando os consumidores brasileiros sem gasolina, sem etanol e sem nada para adocicar? Ficaremos cantando a música de Beto Barbosa, ‘adocica meu amor, adocica’, dentro de casa. Imagine, leitor o tamanho do problema, pois os motoristas de aplicativo em crise, pois seus custos para entregar uma pessoa ou deliverys estarão comendo seu já combalido lucro, caminhoneiros em crise, as empresas precisarão rever suas compras e voltar a aumentar o nível dos estoques, pois o caminhão vai demorar em chegar, as transportadoras por sua vez irão pressionar os caminhoneiros independentes a carregarem mais peso se quiserem fretes para sustentar suas famílias e a vida pode virar um inferno dantesco, pois o diabo mora nos detalhes.

Por Antonio Rosevaldo F. da Silva

Economista

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