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sábado, 25 outubro, 25
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Olhar Que Viu o Vazio: Uma Lição de Fotojornalismo à Moda Antiga

De um erro amador em Salvador à maratona de 600km, porém, fotos recuperadas 

​A Tragédia da maquina fotográfica Fujica sem filme 

​No alvorecer da década de 90, a efervescência do fotojornalismo pulsava no Jornal Notícias da Bahia, sob o comando do amigo Valter Xéu. O jovem Luiz Tito, munido de sua primeira Fujica analógica – presente do tio Reginaldo Tracajá –, embarcava em uma jornada de coberturas que cruzavam a Bahia. No entanto, uma pauta crucial em Salvador, na reunião da UPB (União das Prefeituras da Bahia), selou uma parceria comercial vital com o prefeito de Sento Sé e, inadvertidamente, marcou a mais desesperadora lição de sua carreira.
​A missão era clara: registrar o prefeito em cada movimento. Com a máquina devidamente regulada, o filme de 36 poses parecia estar lá, e o fotógrafo sentou o dedo, disparando freneticamente. O regresso a Feira de Santana, porém, trouxe o golpe: no laboratório, o filme que guardaria a matéria-prima da principal edição do jornal – aquela que pagaria toda a tiragem – simplesmente não existia. A máquina analógica, em um erro amador e trágico, havia sido usada sem filme. O desespero de Valter Xéu era palpável, enquanto o jornal aguardava na gráfica o material fotográfico que ilustraria o investimento comercial.

A Redenção em Sento Sé

​O silêncio do desastre deu lugar à solução: Valter, inconsolável, mas pragmático, embarcou o fotógrafo em um ônibus “pé duro” rumo a Sento Sé, em uma maratona de quase 600 quilômetros. A viagem forçada durante um fim de semana de festa na cidade de origem transformou o fotógrafo em um “retado da vida”, que chegou quebrado pelo desconforto da estrada. Contudo, em meio à paisagem do sertão baiano, a missão maior falou mais alto.

​Em Sento Sé, o foco de Luiz Tito se aguçou.

Não se tratava mais apenas do evento, mas de capturar a força visual e noticiosa da cidade, do prefeito e de sua família, resgatando a essência do fotojornalismo. A máxima de que a imagem precisa de técnica, composição, e um olhar aguçado, seletivo e rápido ressoou em cada clique. O trabalho, agora consciente e meticuloso, superou a falha inicial. O retorno para Feira de Santana trouxe um “excelente trabalho fotográfico”.
​O Notícias da Bahia estampou belíssimas fotos da cidade, assinadas por Luiz Tito, consolidando a parceria comercial de Valter Xéu.

A tragédia da máquina fotográfica Fujica vazia, afinal, transformou-se em uma epopeia de redenção e aprendizado, reafirmando o fotógrafo em sua trajetória profissional, marcada, desde o início, pelo desafio de ver além do que os olhos nus registram.

 

 

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