Por Antonio Rosevaldo F. da Silva
Os terrenos são considerados ativos que podem ser comprados e vendidos, reposicionados, obedecendo necessidades operacionais e financeiras. O que vem ocorrendo nos bairros do centro da cidade de Feira de Santana, obedece a uma lógica voltada à reprodução do Capital.
Nascida no bairro dos Olhos D’água, Feira de Santana durante décadas teve sua burguesia morando no centro da cidade, mais especificamente no bairro Kalilandia. Próximo de suas empresas, era o andar, ser pedestre a melhor forma de deslocamento. Ao redor da localidade se consolidou o bairro da Queimadinha, moradia de empregadas domésticas a servir nas mansões dos endinheirados fazendeiros e comerciantes que habitavam o bairro central. Mas próximo à Kalilandia, existiu a efervescente Rua do Fogo, apelido da Rua Bocaiuva, que hoje começa no Largo São Francisco e vai até a Avenida Joao Durval, onde se realiza a feirinha da Estação Nova.
Ainda hoje se observam casas imponentes na Kalilandia, resquícios de uma época de oura na Princesa do Sertão. Na década de 70 do século passado, com a intensificação do automóvel e, o “incômodo “das classes trabalhadoras, cortando o caminho pelo bairro para acessar o centro da cidade, moradores dos novos bairros Ponto Central, Estação Nova, Coronel José Pinto e outros, que teimavam em bater à porta pedindo empregos e outras coisitas mais, os ricos fizeram a primeira mudança, indo morar no bairro da Santa Monica e em seguida foram povoar o Sim. Aqui vale salientar que até hoje nenhuma linha de transporte público corta a praça da Kalilandia, referência central do bairro. Assim, com o tempo, aos poucos a Kalilandia começou a ser ocupada pelo setor de serviços, com ênfase no de clínicas e hospitais.
As casas começaram a ser vendidas e assim se chegou ao século XXI, em sua segunda década com um tremendo impasse, as poucas belas mansões que sobraram como residências, tem uma certa dificuldade em serem vendidas, daí, que chama atenção a quantidade decupladas de venda espalhada pelo bairro. Alguns dizem a boca pequena que são frutos de brigas por heranças e filhos e netos falidos, tenta salvar alguma grana para ostentar dentro da sociedade feirense. Alguns entendendo que vender uma casa velha, seria preciso investir em uma pesada reforma, então, colocaram as paredes no chão e para não dizer que são bobos, transformaram as velhas mansões em estacionamentos, onde enquanto não conseguem ser arrematadas, se descola uma grana para bancar o jantar naquele restaurante no mais alto prédio da cidade de Lucas.
Atualmente a Kalilandia não tem um empreendimento de lazer para os moradores de alta renda, afinal o PIB feirense praticamente se escafedeu do bairro, indo ocupar os luxuosos condomínios, onde o custo com segurança é bastante reduzido.
O que vai acontecer com o bairro? O metro quadrado ali ofertado é caro e encontra concorrência com novos locais como Ártemia Pires e outros. Não se tem notícia de revitalização urbana no bairro, aliás nem a cidade possui isso, ninguém viu algo parecido, pois a desordem urbana prevalece nesta cidade de Maria Quitéria.
Antonio Rosevaldo
- Economista, Professor da UEFS, Ex Auditor Fiscal do Estado da Paraíba, Ex Coordenador do Polo Regional de Feira de Santana da AGERBA, Ex Diretor de Arrecadação da Prefeitura de Feira de Santana.
Fotos: Luiz Tito