A semana que antecede o Carnaval é de ebulição em Salvador. As festas preparatórias, os blocos desfilando na Barra, a lufa-lufa dos trabalhadores – músicos, ambulantes, jornalistas, profissionais da saúde, da segurança, dos hotéis, bares e restaurantes –, tudo envolve aquela energia que magnetiza todo mundo, inclusive quem não curte a folia. Mas, neste estranho ano pandêmico de 2022, sensatamente, não haverá Carnaval. A semana será estranha.
A vida na capital envolve um ciclo. Invariavelmente o ânimo do soteropolitano se revigora com a luz da primavera. Vai crescendo com a proximidade do verão, com as festas, com o ciclo dos festejos religiosos, com o desembarque dos turistas embasbacados. Em fevereiro, com a chegada do Carnaval, o clímax deste estado de espírito se aproxima, realizando-se na semana de delírio momesco.
Depois do êxtase sempre vem a prostração. É logo depois da folia, quando as águas de março caem, copiosas, fechando o verão. O soteropolitano, então, se rende, exangue: o mar e o céu azuis e a luz maravilhosa do sol recolhem-se, sucedidos pelas nuvens cinzas, por ondas revoltas, pelo outono plúmbeo.
Na Feira de Santana não há ciclo de festas populares, nem mar, nem turistas embasbacados, mas no período a cidade mergulha numa energia diferente, inquieta. Aqui o comércio se dinamiza, as diásporas de final de semana em direção às praias se intensificam e há ansiedade em relação às férias, às festas de fim de ano. Janeiro é só paradeiro, quem pode vai para a praia.
Em fevereiro, às vésperas do Carnaval, capta-se no ar também alguma energia momesca. Muitos viajam, vão para o mato ou para a praia aproveitar a trégua na labuta. Mesmo distante do circuito Barra-Ondina, o tabaréu das silenciosas cidades próximas fica por lá, acompanhando os festejos pela tevê, não vem à Feira de Santana. Assim, o movimento no comércio, no Centro de Abastecimento, declina.
Neste 2022 a semana que antecede o Carnaval – de preparativos, de viagens, de farras, de festas, de muita agitação – vai ser diferente. Prudentemente, os feriados foram cancelados, tudo será normal na Bahia momesca. A pandemia da Covid-19 ainda está aí – com sua variante ômicron – e todo cuidado é indispensável.
Aquela ansiedade característica deve se diluir ao longo da semana, absorvida pela rotina. É óbvio que – aqui ou ali – acontecerão festas, muitos vão às praias, mas a maioria não disporá dessa opção. Melhor assim. Fortalece-se a perspectiva de que, a partir de março, a pandemia arrefeça e a esperada volta à normalidade, de fato, se consolide.
Por André Pomponet
Foto: Luiz Tito