25.4 C
Feira de Santana
terça-feira, 8 outubro, 24
spot_img

Escrevendo com a Luz XIII

A missão do repórter fotográfico no seu dia a dia, ao contrário do que muitos imaginam, é uma verdadeira guerra. São ameaças de mortes e surras no intuito de intimidar e tentar evitar que o profissional possa exercer a sua função e revelar situações que estão obscuras aos olhares da sociedade.

Mesmo com todos os obstáculos que são peculiares a função (já passei por incontáveis situações), o prêmio de um fotojornalista é saber que foi através de uma reportagem (texto e fotos) que a pauta em questão tenha sido resolvida.

Reportar através da fotografia é uma missão muitas vezes árdua e que requer perseverança, coragem, equilíbrio, determinação e muita ética.

Escrever com a luz é mostrar a verdade nua e crua, doa a quem doer, porém, com muita responsabilidade e equilíbrio, afinal, uma grande imagem vale mais do que mil palavras. Ela tanto promove, como também poderá derrubar.

Semanalmente o Jornal Digaí Feira tem publicado situações vivenciadas pelo repórter fotográfico Luiz Tito, durante os seus 30 anos de fotojornalismo.

Fui vítima de racismo, mas perdoei

No dia 21 de maio de 2013, passei por um constrangimento que, infelizmente ainda temos que presenciar e viver (vítima) em pleno século XXI. Ao chegar ao Hospital Regional Clériston Andrade, cumprindo uma pauta jornalística, deparei-me com uma jovem gestante, que peregrinava para dar à luz.

Grávida de nove meses, Gabriela do Carmo Teixeira, 22 anos, estava perdendo liquido e apresentava sangramento, e mesmo assim, não conseguia assistência.

Segundo sua sogra, a lavradora Marinalva Sena, desde sábado ,18, juntamente com a parturiente já havia ido ao Hospital Dom Pedro, Hospital da Mulher (três vezes) e por último o HRCA, e em todos lhes diziam de que não havia vagas.
Sensibilizado com a causa, sugeri a jornalista Alean Rodrigues (minha parceira no jornal A Tarde), que comprássemos a “briga”, e assim fizemos.

Colocamos as duas mulheres no caro do Jornal, saímos do HRCA e fomos para o Hospital Marte Dei (milagrosamente apareceu a vaga par a jovem dá a luz) onde fiz algumas fotos da jovem esperando o atendimento.

Após alguns registros fotográficos, uma das atendentes me chamou ao balcão e perguntou-me qual o motivo das fotos. De imediato identifiquei-me como profissional do Jornal A Tarde e informei-a a situação.

Pois é, com muita prepotência ela disse-me “se você fez alguma foto minha, acho bom você apagar”, respondi dizendo que não havia feito nenhuma foto dela, porém, devido a sua insistência, falei “você é até bonitinha, mas não é o meu foco. O foco é aquela jovem grávida”.
Acho que ela não gostou da resposta e queixou-se com a repórter (segunda ela, não ouvi) “o seu colega é muito ignorante”.

Bom, como sempre faço,procurei concentrar-me no trabalho e ao chegar no balcão , onde a sogra da jovem fazia uma ficha de internação, ouvi ( com toda a minha convicção ) a atendente em questão falando “ um macaco desse querendo tirar onda comigo”, confesso que perdi o controle.
Muito nervoso dirigi- me a ela e falei “você acaba de cometer um crime, ou você não sabe que racismo é crime? E continuei, se você não se respeita, deve respeitar o próximo”.

Nervoso, muito nervoso, afinal, nunca havia passado por isso em toda minha vida, liguei para o Coronel Adelmario Xavier (então comandante da 66ª Companhia Independente da Policia Militar, em Feira de Santana), narrei o fato e solicitei uma viatura.

Demoraram uns cinco minutos e a viatura da Policia Militar chegou ao local. Fomos até a diretoria, e diante de dois diretores do órgão de saúde, de um tenente e um capitão da PM, ela negou ter me chamado de macaco e sim de cara do cão.

Ainda tremendo muito, falei que queria levar o caso até a Justiça. Mas, algo tocou em meu coração e resolvi não levar adiante.

Em seguida ela pediu-me perdão. E tem mais, solicitei aos diretores que preservassem o emprego da jovem, mas que a orientassem a tratar bem ao próximo. Durante alguns meses passei pelo local e constatei a sua permanecia no cargo.

Após sair do local, fui abraçado pelos militares que me falaram “Rapaz você foi show de bola, deu uma lição já mais vista por nós”, ouvi também de algumas colegas dela de trabalho “essa valeu, ela é muito metidinha, dessa vez ele aprende”.
Moral da história: A vingança nos torna igual ao inimigo. O perdão faz-nos superiores a ele”.

Fotos e texto: Luiz Tito

Até a próxima, vem comigo, no caminho te explico
Texto: Luiz Tito

6 COMENTÁRIOS

  1. Nunca tive dúvidas que vc se tornaria essa grande pessoa que vc é. Um forte abraço do amigo de infância Marcelo Guimarães Camara 👐

    • Foi muito nobre de sua parte não levar o caso a diante e ainda pedir que preservassem o emprego da jovem. Infelizmente ainda ocorre o preconceito racial, porém você foi um exemplo.

  2. Graças a Deus 🙏🖐️ pelo amigo irmão Tito puro talento que Deus continue te abençoando e dando-lhe muita sabedoria parabéns campeão.

DEIXE UM COMENTÁRIO

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

FIQUE CONECTADO

647FãsCurtir
183SeguidoresSeguir
0InscritosInscrever

ÚLTIMAS NOTÍCIAS