A missão do repórter fotográfico no seu dia a dia, ao contrário do que muitos imaginam, é uma verdadeira guerra. São ameaças de mortes e surras no intuito de intimidar e tentar evitar que o profissional possa exercer a sua função e revelar situações que estão obscuras aos olhares da sociedade.
Mesmo com todos os obstáculos que são peculiares a função (já passei por incontáveis situações), o prêmio de um fotojornalista é saber que foi através de uma reportagem (texto e fotos) que a pauta em questão tenha sido resolvida.
Reportar através da fotografia é uma missão muitas vezes árdua e que requer perseverança, coragem, equilíbrio, determinação e muita ética.
Escrever com a luz é mostrar a verdade nua e crua, doa a quem doer, porém, com muita responsabilidade e equilíbrio, afinal, uma grande imagem vale mais do que mil palavras. Ela tanto promove, como também poderá derrubar.
Semanalmente o Jornal Digaí Feira publicará situações vivenciadas pelo repórter fotográfico Luiz Tito, durante os seus 30 anos de fotojornalismo.
Operação Veredas, o Mico de Minc
No dia 6 de novembro de 2008, o então ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, desembarcou no aeroporto de Barreiras, no oeste da Bahia, escoltado por funcionários do Ibama, outros órgãos fiscalizadores do meio ambiente e por jornalistas convidados do sul do país. No local foi feita a ponte área com destino ao município de Formosa o Rio Preto. A fiscalização ocorreria na fazenda Mauá, alvo de denúncia de crimes ambientais. É nesse momento que Luiz Tito entra na história.
A assessoria de imprensa do ministro convidou toda a imprensa da região. Mas ressaltou que repórteres fotográficos não fariam parte da pauta, pois havia um profissional à disposição de todos os veículos de comunicação.
Bom, Miriam Hermes, a repórter titular da sucursal encontrava-se de férias, e Roseane Donato, contratada para cobrir as suas férias trabalhava na TV local, e não teria disponibilidade de cumprir essa pauta em dois turnos. Porém, na esperança de conseguir uma liberação da TV, ela se credenciou para a viagem.
Só que ao chegar o dia, Rose não conseguiu ser liberada e ligou para a assessoria do ministro fazendo o descredenciamento. Inconformado com a situação e com a certeza e total convicção que essa seria uma grande pauta, liguei para Salvador, passei a situação e pedi autorização ao editor de fotografia do A Tarde, Carlos Casaes, para tentar embarcar. Após autorização, parti para o aeroporto cheio de fé e esperança de embarcar com os demais colegas de profissão.
Chegando ao aeroporto avistei uma enorme helicóptero da Policia Militar do Rio de Janeiro. Apresentei-me ao comandante, resenhamos um pouco a respeito do Rio de Janeiro (samba, futebol, beleza natural etc.), e pedi que, na medida do possível, ele me ajudasse a embarcar com a comitiva, já que havia a determinação da assessoria do ministro em não permitir a ida de repórteres fotográficos. De imediato, disse-se me ele, “quem manda aqui sou eu, se houver vagas você está dentro”.
Pensei, ganhei a primeira batalha, agora preciso cair para dentro. Foi dada a autorização para a galera embarcar. Posicionei-me e fiquei à espera de uma brecha. Não demorou muito e consegui entrar e me acomodar no veículo. Agora é rezar para a decolagem.
Mas por pura falta de sorte, sentei exatamente em frente ao tal assessor, que foi logo me perguntando, “cadê a sua credencial, qual o veículo que você trabalha?”. De imediato respondi que trabalhava no jornal A Tarde, o maior jornal do norte/nordeste. Ele muito furioso disse-me, “não credenciei ninguém do A Tarde, e você só não vai descer por que já decolamos, mas devido a sua ousadia, quando chegarmos em Santa Rita de Cássia, você fica”. Ouvi e fiquei na minha, já analisando outras possiblidades de retornar para casa.
Ao chegar em Sana Rita de Cássia, procurei agilizar uma maneira de retornar a Barreiras, já que no local havia agentes do Ibama daquela cidade que faziam parte da operação utilizando de carros.
Após garantir esse retorno, parti para a cobertura fotográfica. Porém, um amigo do Ibama disse-me que o forte da operação seria em Formosa do Rio Preto, onde já havia algumas equipes do órgão fiscalizador já operando.
Com a precisosa informação, finalizei o meu trabalho, fiz algumas preces e orações e parti para o helicóptero, só que dessa vez arranjei um espaço nos fundos, bem longe do tal assessor.
Mas uma vez decolamos e respirei aliviado, pois de acordo com a minha fonte, em Formosa do Rio Preto eu conseguiria fazer excelentes fotos da operação denominada” Veredas”.
Mais uma vez a sorte me foi favorável e partimos para Formosa do Rio Preto. Chegamos à Fazenda Mauá, de propriedade de Haroldo Hidekazu Uemura, realmente no local foi pura adrenalina. Fornos derrubados, armas encontradas, dedo riste, máquinas confiscadas, área de produção embargada. O bom nisso tudo é que passei despercebido pelo tal assessor.
Após gravar com o ministro e com o acusado e fotografar toda a ação realizada por Minc, Ibama e outros órgãos ambientais envolvidos na operação, retornamos para Barreiras- e melhor, de helicóptero. Ao desembarcarmos em Barreiras o tal assessor disse-me,” você é mesmo ousado”. Respondi, “ousado não, tenho sorte e muita competência”. No dia seguinte a operação me rendeu uma página no jornal e uma grande foto na primeira página.
Dias após a operação a divulgação da operação em mídia nacional, A revista Isto É Dinheiro Rural, publicou uma matéria com a manchete, “O Mico de Minc”. Essa reportagem desmentiu todas as acusações feitas contra o fazendeiro Haroldo Hidekazu. Na verdade, houve um erro de logística, já que o endereço que o ministro procurava não foi o mesmo que ele desembarcou. Segundo a reportagem, por um digito errado nas coordenadas geográficas, o ministro errou o alvo e condenou um inocente.
A foto que ilustrou a matéria da Dinheiro Rural, teve a assinatura de Luiz Tito/ Ag. A Tarde. O mais interessante nisso tudo é que o ângulo do clic deixou transparecer que eu tinha sido contrato exclusivamente pela Revista ou até mesmo pelo acusado no intuito de mostrar a para o mundo a prepotência e o mico de Minc. Com certeza, essa imagem não agradou em nada o tal assessor ou quem sabe até mesmo provocou a sua queda. Espero que não.
Fotos e texto: Luiz Tito
Próxima publicação, prisão em Santa Luz
Vem comigo, no caminho te explico