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Banquete no Lixão: 35 Anos de Fotojornalismo entre o Luxo e a Miséria no Extremo Sul da Bahia

​A lente de Luiz Tito captura a fome em Eunápolis e transforma a tragédia em solidariedade.

​O fotojornalismo, na essência da sua autenticidade e vivacidade, é o registro fiel da história, quebrando barreiras e promovendo a reflexão e a transformação social. É com essa lente que o fotógrafo Luiz Tito, ao longo dos seus 35 anos de carreira, narra momentos que transitam “do luxo ao lixo”, como os que vivenciou intensamente na sucursal do Jornal A Tarde em Eunápolis, no extremo sul da Bahia, entre os anos 2000 e 2016. Esta jornada não apenas rendeu prêmios e exposições fotográficas ao lado de uma equipe dedicada que levava o sul baiano para o mundo, mas também lhe deu o maior presente: o nascimento de sua filha, Anna Luiza, naquela cidade de energia positiva. No entanto, foi no submundo do lixão, a 525 quilômetros da capital, que a realidade mais crua se impôs, culminando na inesquecível cobertura batizada de “Banquete no Lixão”.

A Ironia da Espera e a Fuga

​Junho de 2002 marcou o repórter fotógrafico com uma pauta que jamais sairia da sua memória. Ao lado da companheira de reportagem Duda Toralles, Luiz Tito cobria a incineração de toneladas de carne apreendidas pela EBDA (Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola) na BR-101, por estarem sendo transportadas de forma irregular. No lixão de Eunápolis, o cenário era de miséria e expectativa: centenas de catadores, ou “badameiros”, dividiam o espaço com urubus, todos de olhos fixos na vistosa carne que seria destruída. O deadline apertava e, na busca por uma imagem impactante, um pedido “inocente” de Luiz Tito a um dos catadores para segurar parte da carne em meio ao lixo deflagrou o caos.

Do Desgaste à Transformação Social

​Aguardando a equipe que buscava gasolina para a incineração, com apenas dois policiais no local, a cena mudou drasticamente: crianças, idosos e adultos apanharam enormes pedaços de carne, jogaram nas costas e correram lixão afora. A justificativa de um homem para os policiais, que apontavam suas armas para o alto, foi a doação: “foi o negão que mandou a gente pegar. Esse negão ai que está fotografando”. A ação, que ilustrou jornais e revistas pelo Brasil e pelo mundo, gerou um enorme desgaste com os órgãos fiscalizadores, mas garantiu que aquelas famílias tivessem alimento por um longo período. Sensibilizado, um mês depois, Luiz Tito reuniu fotógrafos de Eunápolis e coordenou a mostra “Um dia sem fome”, arrecadando toneladas de alimentos, roupas e calçados para a comunidade, provando que a fotografia, além de registrar, tem o poder de mobilizar e transformar a realidade.

​ Acesse @jornaldigai

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