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quinta-feira, 21 novembro, 24
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Bancada da bala quer mais corpos estendidos no chão

André Pomponet

Revólveres calibres 22 e 32, espingardas, às vezes até pistolas artesanais. Não faltavam armas enferrujadas. Os mais equipados iam de revólveres calibre 38 e escopetas calibre 12. Fuzis e metralhadoras era raros. Quando apareciam, era em assaltos a bancos ou a carros-fortes. Até meados dos anos 1990, era mais ou menos esse o arsenal da bandidagem na Bahia. Não faltava armamento, mas pouco sofisticado.

Em centenas de coberturas jornalísticas que fiz, era esse o armamento mencionado nas matérias, fotografados para ilustrar as reportagens. Rifles e fuzis sofisticados restringiam-se às metrópoles como São Paulo ou, principalmente, o Rio de Janeiro. Mesmo em Salvador armamento pesado era mais comum entre assaltantes de banco. O tráfico de entorpecentes recorria aos revólveres, às escopetas.

De lá para cá, o crime foi se armando como nunca se viu. Na virada do século, surgiram as facções no Complexo Penitenciário da Mata Escura, em Salvador. Houve quem achasse que esses grupos ficariam restritos aos cárceres, não alcançariam as ruas. Engano: na segunda metade da década de 2000, começaram a imprimir sua marca no tráfico, nos assaltos, consolidando a criminalidade como poder paralelo.

Organizados, os criminosos estruturaram-se em moldes empresariais. O acesso ampliado às drogas e aos armamentos, importados clandestinamente, combinado ao controle territorial sobre bolsões de pobreza, tornaram as facções no que elas são hoje Brasil afora. Temperando tudo, a corrupção, em suas múltiplas dimensões.

Para entornar de vez o caldo da violência, veio o “liberou geral” do acesso às armas no desgoverno de Jair Bolsonaro, o “mito”. Com dinheiro no bolso, qualquer um podia adquirir muitas armas. Os famigerados CAC – Colecionadores, Atiradores Desportistas e Caçadores – tornaram-se o canal mais corriqueiro de acesso às armas pelo crime organizado. 

Vira e mexe pipoca a notícia de que um desses CAC repassou o arsenal para uma facção qualquer. O modus operandi é justamente esse: o “laranja” é o intermediário na jogada, adquirindo as armas que, em seguida, são repassadas para os verdadeiros compradores. A fiscalização deficiente, também no desgoverno do “mito”, somou-se ao descalabro.

Sensatamente, o governo Lula restringiu o acesso a armamentos no começo do seu governo. Mas a “bancada da bala” – encorpada no Congresso Nacional – move-se agora para tentar revogar muitas restrições. Em suma, descontente com toda essa matança, a turma quer mais.

Talvez seja só uma manobra para desviar a atenção das enchentes no Rio Grande do Sul, que os colocou na defensiva. Mas podem, também, estar aproveitando o momento para “passar a boiada”. Ou as duas coisas. O fato é que a manobra cheira a pólvora. E morte.

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