Em agosto começam a ser pagos os R$ 200 adicionais do Auxílio Brasil, sucedâneo do Bolsa Família.
Serão só cinco parcelas, até dezembro. A partir do ano que vem, o valor volta aos atuais R$ 400. Uma
manobra no Congresso Nacional – a aprovação do “estado de emergência” – autorizou o pagamento, às vésperas das eleições. Como todo mundo sabe, trata-se de um ardil para ampliar a aceitação de Jair Bolsonaro, o “mito”, junto ao eleitorado mais pobre, que o repele. A partir de agora, fica a expectativa da repercussão do benefício junto à população.
Objetivamente, a iniciativa é um remendo débil no cenário de imensa pobreza que aflige os brasileiros. A Feira de Santana é uma ótima amostra para se dimensionar como é necessário fazer muito mais em relação à pobreza. Isso para além das medidas eleitoreiras, claro. Os números seguintes são do próprio Ministério da Cidadania e – reitere-se – não são informações forjadas por uma conspiração comunista, como muitos lunáticos costumam farejar.
Aqui na Princesa do Sertão, em julho, exatas 61.732 famílias receberam, em média, R$ 401,02 de Auxílio Brasil. O valor, a propósito, é menor que a média paga em Salvador (R$ 403,22), na Bahia (R$ 407,77) e no Brasil (R$ 408,80). A quantidade de famílias beneficiárias subiu um pouco em relação ao mês anterior.
Mas, mesmo assim, está bem distante das necessidades mapeadas pelo próprio Ministério da Cidadania.
Segundo o órgão há, precisamente, 139.899 famílias registradas no Cadastro Único na Feira de Santana.
Elas se distribuem em três categorias, de acordo com a respectiva faixa de renda: há os extremamente pobres (48.781 famílias), os pobres (26.020 famílias) e aquelas famílias com renda baixa, que, no município, somam 38.260. Cerca de 25,8 mil famílias não são classificadas em uma das três categorias.
Enfim, trocando em miúdos: só 43% das famílias que tem perfil para ter acesso a algum tipo de amparo governamental tem acesso ao festejado Auxílio Brasil.
Quantas pessoas, então, estão expostas à pobreza ou à baixa renda na Feira de Santana? Especialistas estimam, hoje, que cada família necessitada abriga, em média, 3,1 integrantes. Seriam, portanto, 353,1 mil pessoas. É muita gente, mais da metade do total da população feirense, estimada pelo IBGE em 624 mil pessoas ano passado.
É claro que, para os contemplados, os R$ 200 adicionais até dezembro são indispensáveis. Afinal, sofrem mais as agruras econômicas decorrentes da pandemia e – sobretudo – da implosão de políticas de saúde,
educação e assistência social. Imagino que parte dos beneficiários optará por votar no “mito”. Muitos, porém, não serão enganados. A reversão de votos será suficiente para assegurar a reeleição de Jair Bolsonaro? É impossível prever no momento.
O fato é que os benefícios acabam em dezembro e não há nenhuma perspectiva à frente para os mais
pobres, caso o “mito” permaneça no poder. Isso só não enxerga quem não quer. A pobreza e a exclusão, a propósito, devem continuar crescendo, pois a avassaladora revogação de direitos ainda não cessou. Pelo contrário, deve ganhar fôlego adicional caso Jair Bolsonaro se reeleja.
Por André Pomponet