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A ojeriza ao Brasil atual lá fora

  • Bolsonaro! Bolsonaro!

Quem gritou, com expressão de escárnio, foi um bêbado andrajoso no Mercado do Porto de Montevidéu. Quem ouviu – calado, fingindo que não estava entendendo a provocação – foi um brasileiro careca, de bigode ruivo, feições avermelhadas, que fazia turismo na capital platina naquele novembro de 2018. Apressou o passo e saiu por um dos portões laterais do mercado, sem olhar para trás.

Jair Bolsonaro, o “mito”, acabara de se eleger presidente do Brasil e o pesadelo – sensatamente intuído por tantos naquele momento – nem começara, de fato. Mas os presumidos eleitores do “mito” já despertavam aversão nas ruas silenciosas da ‘Ciudad Vieja’ dos uruguaios.

De lá para cá o Brasil escalou de maneira vertiginosa a condição de escória internacional. Algumas estrelas do novo regime – os mais fanatizados – até exultavam, enaltecendo a condição de “pária” do País, orgulhosos das próprias convicções obscurantistas. Nos últimos meses, em função das eleições presidenciais, tentam retocar essa imagem, agendando visitas a autocracias em remotas regiões do planeta. Mas o estrago, lá fora, em termos de imagem, já está feito.

O brasileiro médio sempre foi dependente da aprovação internacional. É a chamada “síndrome do vira-latas”. Quem viaja – sobretudo a classe média que votou no “mito” com iracunda e estridente convicção – deve experimentar, mundo afora, a perplexidade que a gente civilizada dispensa ao País que elegeu o “mito”. Aliás, nem precisa ser tão civilizado assim: até mesmo os vizinhos da América Latina não arriscaram tamanho salto no escuro em suas eleições recentes.

A pandemia e, mais recentemente, a aguda desvalorização do real refrearam o ímpeto viajante do brasileiro. Quem viaja – imagino – dispõe de recursos, é gente mais habituada às viagens internacionais. É justamente quem votou em Jair Bolsonaro julgando que a escolha arremeteria o País para o mundo desenvolvido, livre da corrupção e do “comunismo”. Não é preciso tanto esforço para perceber que, ao invés de se avantajar, o Brasil encolheu. Com ele, foi junto a relativamente simpática reputação que o brasileiro desfrutava lá fora.

Não retorno ao Uruguai desde aquela viagem já distante, contaminada pelos maus presságios confirmados nos últimos anos. Imagino que a perplexidade com a situação do Brasil – e até certa ojeriza aos brasileiros – cresceu desde então. A prudente distância que o presidente uruguaio Lacalle Pou – entusiasta liberal que venceu a coalizão de esquerda nas eleições presidenciais de lá – mantém de Jair Bolsonaro é sintomática.

Não, não deve estar fácil ser brasileiro lá fora, em países civilizados. Mas, pior ainda, é permanecer por aqui, com esse horror que, todo dia, se renova no noticiário… 

Por André Pomponet

 

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