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terça-feira, 10 setembro, 24
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A noiva à espera do noivo em Seabra

O episódio foi lá em Seabra, na Chapada Diamantina. Aconteceu há pouco mais de 10 anos. Era verão, a metade da tarde do sábado já tinha escoado. Percorria a rua tranquila e silenciosa que conduzia a uma praça ladeada por árvores altas, esguias. No centro da praça, a igreja ampla, cuja fachada se destacava à distância, sobrepondo-se ao casario em redor. A quietude típica dos finais de semana imperava, pois o comércio fechara e quem viera para a feira-livre já embarcara, retornando às suas comunidades rurais.

Pois foi quando vi a noiva. Devia ser pouco mais de 16, talvez 17 horas. Qualquer coisa me distraíra na caminhada e, quando olhei para a frente, lá estava ela, exatamente na porta da igreja. Sozinha, cabisbaixa.

Mais: a impaciência levou-a a esticar um dos braços e, com a mão, apoiar-se no umbral. A outra mão, a esquerda, repousava na cintura, realçando sua inquietação. Era a que conduzia o buquê. Em volta, ninguém, os convidados deviam estar dentro da igreja. Cena surpreendente, impressionante até.
Movido pelo instinto jornalístico, saquei do bolso a máquina fotográfica – viajante sempre conduz uma delas – e tentei, naquela imensa distância, aproximar a imagem, aproveitar aquele flagrante fotográfico único, ímpar. Esforço inútil: uns 200 metros me separavam da noiva e a imagem estava difusa, precisava de equipamento fotográfico profissional para aquele registro. Mesmo assim, cliquei algumas vezes.

À medida que me aproximava – o passo apressado, torcendo para que nada mudasse – a inquietação crescia, pois aquilo era destoante demais para se estender por muito mais tempo. Foi o que aconteceu: quando estava próximo o suficiente, a noiva já estava cercada por um séquito que emergira da igreja.

Conversavam, riam, tentando acalmá-la, distraí-la.
Obviamente, tratei de me acomodar num banco da praça, à espera do desfecho daquela situação de
cinema. Um pouco tensa, a noiva conversava e sorria, mas sorria sem graça, como quem pede desculpas.

Será que ia ficar ali, esquecida pelo noivo? Não. O rapaz residia numa comunidade rural remota e se
atrasara, um problema qualquer com o carro que o conduzia ao casamento retardou sua chegada. Assim comentaram todos, no desembarque. Alguns sorrisos desfizeram o constrangimento e o casamento começou.

Gente simples que, depois da cerimônia, embarcou e foi, ruidosamente, celebrar aquele enlace na zona rural de Seabra. Tudo acabou bem. Mas fiquei mais um pouco por ali, remoendo minha frustração com o flagrante perdido. Não, não sou repórter fotográfico de ofício, não circulo com equipamento à mão, espreitando oportunidades. Distraído, nem mesmo ando com o aparelho celular aguardando uma chance
qualquer.

Na fundo, fotografo eventualmente, no tradicional esquema amador. Mas, mesmo assim, experimentei a dor, a frustração da foto perdida. Obviamente, fiquei feliz com o desfecho favorável do episódio, torço para que o casal permaneça unido até hoje. Mas que foi difícil digerir a frustração pela foto perdida, lá isso foi…

Por André Pomponet

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