Em Feira de Santana, a busca por assistência médica a uma gestante transforma-se em palco de injúria racial, onde a câmera cede lugar à humanidade.
A sensibilidade e o olhar apurado são a essência do repórter fotográfico, e foi essa mesma humanidade que moveu Luiz Tito, do jornal A Tarde, em 21 de maio de 2013. Em pauta no Hospital Regional Clériston Andrade, ele se deparou com a comovente peregrinação de Gabriela do Carmo Teixeira, uma jovem gestante de nove meses que, apesar da perda de líquido e sangramento, era vítima da cruel falta de vagas. Unindo forças com a colega Alean Rodrigues, a “briga” foi comprada, e a saga se moveu em direção ao Hospital Marte Dei, onde, “milagrosamente”, o atendimento se concretizou. O clique, instrumento de registro da dura realidade, era a missão; a defesa do próximo, a nobre causa.
O Poder da Imagem e a Injúria
Após registrar os primeiros momentos da gestante, o jornalista foi interpelado por uma atendente, que, com prepotência, exigiu que apagasse qualquer foto que a incluísse. A calma resposta de Tito – “você é até bonitinha, mas não é o meu foco. O foco é aquela jovem grávida” – acendeu uma faísca de descontentamento que logo se revelaria uma ofensa de natureza mais grave. No balcão de internação, a frase cortante e covarde atingiu o profissional: “um macaco desse querendo tirar onda comigo”. A injúria racial, crime em pleno vigor do século XXI, desestabilizou o jornalista.
No nervosismo de quem jamais havia sido vítima de tal ultraje, a polícia foi acionada, transformando o hospital em palco de um flagrante de racismo, com a presença de oficiais e diretores da unidade de saúde.
O Gesto Que Supera a Vingança
Ainda tremendo e decidido a buscar a Justiça, algo tocou o coração de Luiz Tito. Diante da atendente, que negou a injúria e, por fim, pediu perdão, ele tomou uma decisão que superou a vingança: a do perdão. Não só abdicou de levar o caso adiante, como também solicitou aos diretores que garantissem a permanência da jovem em seu emprego, exigindo apenas a devida orientação sobre o respeito ao próximo.
O gesto, inesperado para os militares e colegas da agressora, rendeu-lhe o reconhecimento de uma lição inesquecível. Como ele mesmo conclui: “A vingança nos torna igual ao inimigo. O perdão faz-nos superiores a ele.”
Fotos: Nei Rius





