Tenho perfeita consciência de que abordo questão fora do tom: a perspectiva da integração da Feira de Santana ao modal ferroviário nos próximos anos. Às vezes, algum técnico do setor, numa entrevista qualquer, ressalta a necessidade da Princesa do Sertão diversificar seus modais logísticos, integrar-se mais amiúde aos circuitos dinâmicos da economia brasileira. Afinal, o município é vocacionado para a integração regional, sua malha viária o coloca em condição privilegiada.
Alguém dirá – com sensatez – que, nesses tempos ferozes, alimentar debate do gênero é
um despropósito. Afinal, vivendo num País corroído por uma degeneração inédita, o
brasileiro médio só consegue pensar no curtíssimo prazo, na sobrevivência diária e olhe lá.
Horizontes mais largos, perspectivas de futuro, tudo isso foi sendo esquecido nestes anos
de barbárie explícita.
Reconheço que é verdade. Mas o período eleitoral nos injeta algum otimismo, há a
possibilidade concreta – caso não sobrevenha um golpe que imploda tudo de vez – do
cenário mudar a partir de janeiro, com o horror se tornando uma recordação amarga da
qual, pouco a pouco, iremos nos afastando. Então, será necessário esquecer a morte como
único fim e resgatar a possibilidade de pensar a vida, de melhorar a vida.
Faz tempo que não se vê, sequer, uma intervenção relevante na infraestrutura logística da
Bahia. A celebrada Ferrovia Oeste-Leste, a Fiol, arrasta-se em obras infindáveis há bem
mais de uma década. A polêmica ponte Salvador-Itaparica não sai do papel. Aqui na Feira
de Santana, o que chega é pontual, orbita muito mais no circuito da promessa que,
propriamente, no concreto, sem trocadilhos.
Anos atrás – ainda no governo Dilma Rousseff (PT) – começou uma discussão sobre um
amplo impulso à integração ferroviária no Brasil. Naquela época, pensava-se num
proposta que ligaria a Feira de Santana a Ipojuca, sede do porto de Suape, em Pernambuco; a Juazeiro (BA) e Petrolina (PE), no Vale do São Francisco; a Belo Horizonte, em Minas Gerais, conectando-se com a região Sudeste; e com Candeias, na Região Metropolitana de Salvador.
O projeto, obviamente, não foi adiante. Mas o debate – e, sobretudo, os investimentos – seguem necessários. O período eleitoral é propício a discussões do gênero. Seria bom
saber o que os candidatos – ao Palácio do Planalto, ao Palácio de Ondina – pensam sobre a
ampliação da malha ferroviária brasileira, no geral, e para a Feira de Santana, em particular.
Dinamizar a economia é imprescindível para remover o País da miséria na qual o
mergulharam. No âmbito da infraestrutura, as ferrovias cumpririam um papel fundamental nesse esforço de reconstrução do Brasil. Nesse contexto, a Feira de Santana ocupa condição privilegiada.
Por André Pomponet