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Feira de Santana
quinta-feira, 12 dezembro, 24
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A DESIGUALDADE FEIRENSE.

Antonio Rosevaldo Ferreira da Silva

Economista e Estatístico.

Que Feira de Santana é uma cidade desigual basta um olhar pelas ruas da cidade que já nos deixa a sensação de pobreza. Caminhando para os bairros periféricos se pode observar o estado de penúria que vive a população daqueles lugares. A falta de saneamento, de escolas, enfim de presença estatal, somente não é completa pois o aparato de segurança teima em tocar o terror de forma completamente diferente do “por favor” em bairros de renda média alta. Em 2010 cerca de 17% da população feirense vivia abaixo da linha de pobreza, atualmente passamos de 30%. Este fenômeno atinge basicamente os negros e pardos pela classificação do IBGE.

Feira não possui grandes favelas como em outros municípios, mas tem bairros distantes do centro, que em muito se assemelham, basta um olhar mais atento e vai observar que existem os famosos becos e vielas com dezenas de pequenos imóveis que nada tem a oferecer de qualidade de vida coabitando no centro da cidade, ofertando nichos de pobreza entre a reprodução do Capital no centro comercial. Milton Santos chama este fenômeno de cidade espraiada. A cidade como espaço de acumulação capitalista submete a classe trabalhadora a um processo de relocalização onde vai residir em espaços distantes e deixando apenas a nostalgia da pobreza urbana em bairros como Queimadinha e Rua Nova, este ultimo ainda sem contar com uma simples linha de ônibus, como se naquele espaço não existissem pessoas idosas e com dificuldades de locomoção. A falta de saneamento em Feira de Santana é por demais conflituosa. Condomínios de renda média nem casa de lixo possuem.

No tocante a renda, a cidade tem um descalabro enorme. Em 2019 o IBGE apontava um PIB per capita de R$24.229,74. Sendo que era 31º do Estado, o que denota a desigualdade. Em 2020 o salário médio era de 1,9 salários mínimos, ocupando a posição 124 dos 417 municípios baianos. Bem distante de São Francisco do Conde com 4,9 e Salvador com 3,3 salários mínimos. Em 2008 nossa cidade tinha 2,1 salários.

Outro dado interessante é o numero de empresas. Em 2013 Feira de Santana tinha 16.156 empresas e Vitória da Conquista 8.780. em 2020 o número de empresas feirenses reduziu para 14.939 e Vitória da Conquista aumentou para 8.905. Isso mostra uma redução na atividade econômica expressa em dados do IBGE. Na questão do emprego em 2014 existiam mais de 126 mil pessoas empregadas e somente agora em 2022 se chegou a 120 mil postos de trabalho ocupados, sendo que em 2020 aqui existiam 134.000 pessoas empregadas e 38,7% da população recebia até ½ salário mínimo, ocupando o décimo lugar e Salvador tem 36,8%. Os números são terríveis e se precisa tomar uma atitude, caso contrário a Princesa do Sertão corre o risco de perder a coroa, afinal de contas, a cidade que tem o segundo lugar em estoques de empregos distribui de forma perversa, a riqueza gerada. A cidade não tem mais representatividade econômica e muito política, onde estes agentes não passam de subalternos de políticos de outras cidades. Impossível não entender o porque do maior entroncamento rodoviário do Nordeste brasileiro não ter um aeroporto que pudesse acolher os atacadistas e seus centros distribuidores aqui localizados. Tudo devido a uma atitude mesquinha de Salvador não nos devolver o protagonismo na movimentação de cargas. Não se entende como Mercado Livre, Magalu, Correios e outros se localizem em outros centros e trafeguem com seus produtos pelos nossos mais de 1,3 milhão de quilômetros quadrados de nosso território, acessando o interior do estado. Estes empregos nos fazem falta e não tem quem nos defenda. De nada adianta uma atitude isolada, aqui e outra ali. Necessário se fazer um movimento que exija o protagonismo que cabe a Feira de Santana.

Voltando a questão urbana, não temos um transporte eficiente que permita deslocar com qualidade a força de trabalho para exercer seu labor. O número de trabalhadores e trabalhadoras que se deslocam por conta própria é enorme, isso é  facilmente observado se alguem ficar abaixo do viaduto do Cajueiro e verificar a quantidade de motos e vans com pessoas apressadas para bater o ponto. Não é a toa que nossa cidade possui uma das maiores frotas de motocicletas licenciadas por habitante 7,34   contra 9,3 motos/habitante na Bahia. Para que se tenha uma ideia melhor, tem 8,78. Esclarecendo, quanto maior o indicador menos motos por habitante, e menor a motorização. Isso demonstra a dificuldade de locomoção. Qualquer grande empresa leva em consideração estes indicadores quando faz estudo de localização pensando em montar filiais ou até mesmo instalar novas fábricas.

O que se viu até aqui são dados que corroboram que Feira de Santana tem muita pobreza e baixa renda. Para solucionar este problema é preciso fazer com que seus habitantes tenham primeiro mais amor pela sua cidade e exija de seus governantes um melhor compromisso com o crescimento sustentável de nossa região. Estamos perdendo protagonismo.

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