ISTO É O NOSSO PAÍS – Esta semana, eu vinha fazendo o meu percurso de volta para casa, depois de mais um dia de trabalho, e um cidadão aproximou-se de repente e começou a desabafar a sua situação: estava desempregado há meses, com dois filhos para sustentar e um monte de contas para pagar. Havia saído pela manhã, em busca de trabalho (qualquer coisa) e estava voltando sem nenhuma perspectiva. No dia anterior, a sua família se alimentou apenas de pão e refresco, comprados fiado no mercadinho do seu bairro. Olhei aquele cidadão. Havia honestidade em seus olhos banhados de lágrimas de ódio, inconformidade e desespero. Proferi algumas palavras de consolo, sentindo-me incapaz de resolver os seus problemas. Dobrei a esquina e segui meu caminho, pensativo, incomodado com tanta injustiça na distribuição de renda em nosso país, onde tantos têm de sobra e outros tantos sequer têm o direito de sonhar.
A VERDADE PRECISA SER DITA – Encontrei, nessa terça-feira, um dos nossos grandes músicos, mais um que teve de sair de sua terra para mostrar sua arte em outro lugar. Conversamos bastante e ele foi taxativo: “Feira continua ingrata com seus artistas. Aqui não se consegue trabalhar ganhando um cachê digno da nossa importância para a sociedade. Estive observando a Micareta, no anonimato, e percebi a desvalorização do artista local, a maioria relegada a segundo plano, tocando em cima de trios de péssima qualidade. Conversei com alguns e eles me disseram o valor do cachê e quem ficou envergonhado fui eu. No São João, parece que não foi diferente. Pagaram mundos e fundos à turma que veio de fora e para o artista da terra o cachê foi mais uma vez uma vergonha para toda a classe. Estou decepcionado. Cheguei a pensar que os homens que dirigem Feira de Santana tivessem mais sensibilidade para com os interesses do artista local, mas esse filme parece que vai estar eternamente em cartaz. O bom, para eles, é o que vem de fora ganhar o nosso dinheiro e nós temos de nos contentar com as migalhas, se quisermos trabalhar”. Ouvi atentamente o desabafo do colega e a emoção tomou conta de mim, calando-me as palavras.
TIÃO PEREIRA – Quando é que alguém do poder público irá colocar o nome de Tião Pereira em alguma coisa ligada à cultura em Feira de Santana? Para quem não sabe, Tião foi o maior promotor e incentivador cultural que Feira já teve, tendo lançado mais de cem artistas (em todas as áreas). Mantinha o “Informativo Cultural”, órgão que tinha como meta a divulgação e valorização da produção artística da cidade, exaltando e enobrecendo o nome dos nossos artistas.
SENHORES DO PODER… – Sei da sensibilidade dos senhores diante das coisas que envolvem a cultura no município. Portanto, peço-lhe que pense no assunto e faça alguma coisa pela memória do nosso Tião Pereira, batizando um espaço da cultura local com o nome do mesmo.
Sandro Penelú escreve a Caneta Afiada há vinte e dois anos, trazendo para o leitor temas que incitam a opinião de cada um, sempre visando a melhoria da nossa sociedade como um todo.
Nos anos 1990, Sandro Penelú assinava a coluna “Quero entender para aplaudir”, que era publicada em diversos jornais da cidade, num estilo satírico, abordando assuntos do cotidiano









