Desde a primeira Conferência das Partes (COP), lá em 1995, na Alemanha, o mundo se reúne ano após ano para discutir o clima. Já são quase trinta anos de promessas, discursos e declarações de boa vontade. Mas, enquanto as palavras se acumulam, o planeta segue em colapso: o calor bate recordes, secas e enchentes se multiplicam, e a sensação é de que a natureza anda cobrando caro pelo tempo perdido.
O fato incômodo é o mesmo de sempre: quem mais poluiu continua sendo quem menos faz. Os países historicamente responsáveis pela crise climática seguem descumprindo compromissos, fiscalizando pouco e se esquivando da responsabilidade. Nenhum exemplo é mais simbólico que o dos Estados Unidos – o maior poluidor histórico do planeta e, ainda hoje, o segundo maior emissor anual de gases de efeito estufa, atrás apenas da China.
Segundo o Global Carbon Project, ‘cerca de 25% de todo o CO₂ lançado na atmosfera desde a Revolução Industrial veio dos EUA’. Em outras palavras, boa parte do aquecimento global que sentimos hoje nasceu de um modelo econômico dependente de carvão, petróleo e poder geopolítico.
Ainda assim, os Estados Unidos seguem um roteiro contraditório: assinaram o Protocolo de Kyoto, mas nunca o ratificaram; saíram do Acordo de Paris em 2020 e voltaram em 2021. E tudo depende de quem ocupa a Casa Branca – um presidente promete ação, ao passo que o próximo nega até a existência do problema.
Donald Trump chegou a dizer, em discurso na própria ONU, que “as mudanças climáticas são a maior farsa do mundo”. O problema é que não ficou só no discurso e defendeu o carvão, atacou as energias renováveis e desmontou políticas ambientais. Nada mais contraditório do que um líder que se comparece a uma COP, no voo de volta, acaba por ignorar cada linha do acordo que acabou de ouvir. Cinismo climático? Talvez.
Enquanto isso, os países que menos poluíram seguem pagando o preço mais alto. São nações já marcadas por secas, enchentes, fome e deslocamentos forçados, e segue a ironia cruel: quem menos contribuiu para o problema é quem mais sofre com ele.
A anunciada ausência dos EUA na COP30, que este ano será realizada em Belém, vai muito além de um gesto diplomático – revela um padrão. Sem o compromisso dos maiores poluidores, as COPs correm risco de virar eventos impecavelmente organizados, mas climaticamente inúteis, pois, ainda que o mundo fale em metas, sem mecanismos de cobrança – e, pior, sem contar com quem mais precisa agir – fica ainda mais difícil.
Outro ponto passa quase despercebido: a crise climática virou bandeira ideológica, transformou-se em disputa de narrativas, em vitrine política e a presença de determinados líderes políticos em eventos internacionais parece valer mais que as políticas de fato. Numa reunião preparatória no Rio, alguém perguntou por que certos representantes precisavam estar ali, e a resposta foi direta: “Porque eles são os mais importantes”. Será mesmo? Diríamos que sim, se suas ações correspondessem aos seus discursos.
Enquanto líderes disputam protagonismo, a verdade é que a mudança real começa no cotidiano, não nos palcos diplomáticos. Povos originários – muitas vezes ignorados nas decisões globais – são exemplos e seguem mostrando, na prática, que é possível viver em equilíbrio com o meio ambiente sem precisar de acordos assinados em COPs.
Quiçá, no fim das contas, a pergunta mais importante não seja “o que as COPs vão resolver?”, mas “o que nós, como sociedades, estamos dispostos a fazer quando os líderes não fazem?”. Greves climáticas, mobilizações juvenis, boicotes, ações locais – cada gesto conta.
Às vezes, um movimento social tem mais impacto que uma cúpula inteira. Quem sabe seja possível dizer: o futuro do planeta não depende da presença de Donald Trump em uma conferência, mas do que o mundo fez, faz, e fará – apesar dele.
Carlos Alberto – Professor, radialista e mestre de cerimônias
Pedro Torres Filho – Engenheiro Agrônomo









