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domingo, 29 setembro, 24
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Vertiginosa espiral de violência na Feira

André Pomponet

Já comentei neste espaço que, no passado, me dediquei à cobertura policial aqui na Feira de Santana. Entre idas e vindas, foram cerca de seis anos. Tempo suficiente para testemunhar muita desgraça, muita tristeza, muito sofrimento. Não rendeu um estudo sistemático sobre a violência aqui na Princesa do Sertão, mas implicou em um extenso aprendizado não apenas sobre a violência, mas também sobre a desigualdade, a exclusão e a omissão. Esta última sobretudo por parte do Estado.

Nos anos seguintes, acompanhando estatísticas, lendo livros sobre o tema e escrevendo artigos de opinião com frequência, fui cristalizando a constatação que, no circuito da violência, mudam as personagens com assustadora regularidade, mas os processos que o geram permanecem imutáveis, quase intocados.

Em 21 de novembro de 2012, por exemplo, publiquei o texto “Feiraque ou “Feiranistão?”: a escalada da violência”. Foi no site Infocultural, do saudoso amigo jornalista Geraldo Lima. Comentava, então, sobre seis assassinatos registrados aqui na Feira de Santana numa terça-feira. Pois bem: quase 12 anos depois, sexta-feira (10), ocorreram impressionantes oito homicídios.

Nada mudou, como se vê. Tanto que até pego emprestadas algumas frases daquele texto longínquo: “Em alguns bairros, a taxa de homicídios deve se aproximar daquelas verificadas em regiões que vivem sob conflito declarado (…) Noutras palavras, circular pelas ruas da Feira de Santana, hoje, é perigoso. Muito perigoso”.

Tem mais: “Quem mata aposta numa impunidade que é quase certa: poucos assassinos costumam ser identificados e apenas uma minoria vai para o banco dos réus. Parece mais provável que o criminoso prove do próprio veneno: lá adiante, ele pode ser alvo de uma vingança ou, simplesmente, ser tragado pela espiral de violência na qual mergulhou”.

Nada mudou? Talvez esteja enganado. As facções – fenômeno que se consolidou ao longo da última década – e a homicida liberação de armas tornaram tudo muito pior. As mortes se sucedem, aumentam e o estrugir de palmas da população acuada também. Que resta, então? Lastimavelmente, finalizei o texto de 12 anos atrás da mesma forma que finalizo este, o que comprova que nada melhorou: “Por hora, resta ao feirense apenas rezar pelos que tombaram e torcer para não ser a próxima vítima”.   

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