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Sabará dez em campo e nota dez ao volante  

No dia 13 de maio de 1948, justamente dia em que se comemorava a abolição da escravidão no Brasil (no papel), nascia na cidade de Propriá, em Sergipe, Adeilton Ferreira Santos. De família muito humilde, Dica (apelido de criança) cresceu jogando futebol nas areias da praia e passou a alimentar o sonho de ser jogador de futebol. Sonho comum a todos os meninos de Norte a Sul do Brasil que não nasceram em berço de ouro.

Logo aquele moleque negro de cabelos Black Power, franzino, habilidoso e muito diferenciado com a bola nos pés despertou a atenção de olheiros e foi parar na divisão de base do Confiança, em Aracaju (SE).

Já conhecido como Sabará, sua profissionalização ocorreu aos 19 anos, na Agremiação Sportiva Arapiraquense, o ASA, de Alagoas. Foi nesse Estado que em 1655, nasceu Zumbi dos Palmares, um dos principais representantes da resistência negra a escravidão na época do Brasil Colonial. É bem provável que a história de luta de Zumbi tenha sido mais um combustível de superação na vida desse jovem que através do futebol se libertou para um padrão de vida melhor.

Em uma época em que todos os grandes times do Brasil tinham um jogador craque de verdade. Sabará era titular absoluto e ostentava com muita valentia, orgulho e habilidade a dez do manto alvinegro do ASA, um dos mais tradicionais clubes de Alagoas. “Se hoje eu jogasse futebol, estaria em um grande time do futebol brasileiro, e jogaria com a dez”, disse com toda a sua convecção.

Apaixonado por futebol (não perde um jogo do Flamengo), para Sabará   hoje o futebol está nivelado por baixo. “Os jogadores são fabricados. Uns robôs. Poucos jogadores têm o dom de jogador futebol. A parte física é prioridade. Estão podando, engessando os talentos que surgem nas bases. É preciso deixar esses meninos driblarem, darem canetas, chapéus, extravasarem todas as suas habilidades nos gramados, afinal, eles são os futuros do futebol brasileiro”, sugeriu.

O ex-craque diz que gol é o momento mais importante no futebol, mas que na sua época ocorriam muitos jogos de zero a zero, com pesos de goleadas, e a torcida voltava para casa satisfeita. “Havia muitos jogadores acima da média, entre eles eu (risos) e o futebol era um verdadeiro colírio aos olhares do público que lotavam os estádios”, lembrou.

Futebol baiano

Em 1969, jogando um amistoso contra o Fluminense de Feira, no estádio Joia da Princesa, o dez do Asa despertou a atenção dos dirigentes do Feira Esporte Clube (hoje Bahia de Feira) e foi contratado pela agremiação feirense.

Mas foi no Atlético de Alagoinhas, 1971\72, que ele brilhou e juntamente com *Dendê e Merica ( *na época ambos foram levados para o Flamengo do Rio de Janeiro ) formou um dos melhores meio de campo do futebol baiano, levando o Carcará a torna se a terceira força do futebol baiano, perdendo apenas para a dupla Bahia e Vitoria, que tinha Mario Sergio, Osni, Leo Oliveira etc.. “Jogávamos por música”, lembrou.

De acordo com Sabará o Atlético era um timaço. “Jogávamos pau a pau contra qualquer time do Brasil. Nosso time em casa era imbatível e fora jogávamos da mesma maneira. Contra times grandes eu arrebentava. só não fui para o Flamengo, meu time de coração, devido ao alto valor cobrado pelo meu passe”, lembrou

Seu estilo alegre e irreverente, porém sério e respeitador despertou a atenção do Bahia, na época treinado por Sotero Monteiro (autor da frase, homem que é homem, muda de sexo, mas não muda de time), “pequenos detalhes atrapalharam a negociação”, disse.

Na Bahia Sabará ainda brilhou com as camisas do Humaitá, Itabuna, Conquista e Fluminense de Feira.

Amigos, sua riqueza

A realidade da maioria dos jogadores de futebol passa longe do luxo e do glamour dos grandes clubes brasileiros. Sofrendo com salários baixos, que constantemente atrasam, vários atletas encerram a carreira cedo e migram para outras atividades profissionais e com Sabará não foi diferente, aos 29 anos encerrou a carreira no Auto Esportes de João Pessoa, Paraíba, e retornou a Feira de Santana, cidade em que passou a morar após seu casamento.

Ao contrário do que muita gente pensa, Sabará afirma que não ganhou fábulas de dinheiro na carreira. Ele diz que, na época do auge, os contratos não eram tão bons quanto os feitos pelos jogadores de hoje em dia. Mas ganhou e guardou o suficiente para dar um padrão de vida com dignidade à esposa e filhos. “Os amigos adquiridos ao longo de minha carreira é a maior riqueza que acumulei no futebol”, falou.

Motorista de taxi 

Ainda ostentando um cabelo rastafári, como nos tempos em que desfilava nos gramados, driblando os seus adversários e levando torcidas aos delírios com gols e jogadas de efeitos, Sabará mantém a mesma elegância e habilidade, porém ao volante de um taxi. “Continuo mantendo a mesma postura ao volante, como se estivesse em um campo de futebol. Hoje é esse o time que defendo”, narrou.

Respeito e querido

Bastante respeitado e querido por muitos em Feira de Santana e por onde passou ao longo de sua carreira futebolística, Sabará ficou viúvo há 50 anos e optou por manter se solteiro. Para a sus tristeza a cadela Belinha (uma Cocker Spaniel) a sua maior companheira e parceira após a morte de sua companheira, morreu recentemente. “Graças a Deus ainda tenho os filhos, meus amigos, netos e o Flamengo que alimentam a minha alma e alegram o meu coração”, relatou.

Nova carreira

Encerrar a carreira e iniciar uma nova profissão, com plena realização pessoal, nem sempre é uma tarefa possível para a maioria dos ex –atletas. Sabará é um exemplo de que um ex -atleta de futebol pode dar seguimento à sua vida como cidadão quando cessarem sobre ele os holofotes da mídia e seu nome deixar de ser uma referência. “Há vida após a bola e continuo em evidência”, disse sorrindo.

Resenha boa

Ele faz ponto entre as Avenidas Santo Antônio e Presidente Getúlio Vargas, Ponto Central. No local a resenha é boa, porém, só não faça críticas ao Clube de Regatas do Flamengo, você poderá perder a viagem e perder um amigo. Flamenguista de carteirinha, o ex -jogador de futebol possui mais de 30 camisas Rubro Negras, “Flamengo é a minha segunda pele”, faz questão de dizer.

Texto e Fotos: Luiz Tito

 

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