Boa parte dos políticos feirenses apoiou Jair Bolsonaro, o “mito”, nas eleições presidenciais de 2018. Dois anos depois – quando ocorreram as eleições municipais – refizeram essa profissão de fé, abraçando os temas caros à extrema-direita. Essas escolhas não foram casuais. É natural, portanto, que a política feirense, hoje, funcione à moda do “mito”, com incontáveis encontrões e bordoadas – metafóricas, felizmente – na relação entre Executivo e Legislativo.
Impressionante é que os entreveros não envolvem, necessariamente, governo e oposição, como sempre acontece. Pelo contrário: a estridente bancada independente – vereadores que, nas eleições, apoiaram o prefeito Colbert Filho (MDB), mas que, no Legislativo, constituíram um grupo autônomo – ofusca até a oposição, espraiando-se por todos os espaços políticos.
É até enfadonho comentar que não há diálogo na relação entre Executivo e Legislativo. Afinal, o cenário beligerante se desenhou logo nos primeiros meses de 2021, quando o prefeito apenas reestreava no Paço Municipal e muitos vereadores mal tinham desembarcado na Casa da Cidadania. Desde então, o ambiente político feirense conturbou-se, com raros momentos de trégua.
Se falta diálogo e a relação entre o Executivo e o Legislativo se deteriora, provocando impasses, recorre-se à mediação do Judiciário. Foi o que o Paço Municipal fez, obtendo duas vitórias com ampla repercussão nos últimos dois dias: liminares impondo a votação para a criação do Conselho do Fundeb e a revogação da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) aprovada pela Câmara com emendas que o Executivo contesta.
Analistas políticos veem as decisões como derrotas impostas pelo prefeito Colbert Filho ao presidente da Câmara Municipal, Fernando Torres (PSD). Artífice da bancada independente, o vereador vem impondo constantes desgastes ao prefeito. Algo raro na Feira de Santana, pois o Legislativo historicamente sempre foi cordial e submisso ao prefeito de plantão.
O problema é que o modus operandi bolsonarista, sob o qual a política feirense hoje funciona, é estéril. Pior ainda: é destrutivo, nocivo à população. O município está aí, pejado de problemas crônicos nas mais diversas áreas. Os perversos desdobramentos da pandemia tornam-se cada vez mais visíveis e a Covid-19 – com a variante Ômicron – volta a assustar. Essas questões, por exemplo, para não mencionar outras, são ignoradas.
Por fim, é bom não esquecer que a conturbada relação entre Executivo e Legislativo também tem seus momentos de harmonia. Foi o que ocorreu com o reajuste salarial dos vereadores e do primeiro escalão do governo municipal. Ninguém bradou, ficou indignado, nada. Houve apenas um silêncio tácito, muito eloquente…